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Povo de terreiro sai às ruas para denunciar intolerância religiosa e racismo, no Rio

18/09/2017

Vestidos de brancos, umbandistas e candomblecistas responsabilizaram omissão das autoridades pelo crescimento do ódio às religiões de matriz africana

Escrito por: Walber Pinto

Sacerdotes, filhos de santo e líderes religiosos protestaram contra o racismo e a intolerância na tarde deste domingo (17), na Praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. A 10ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa aconteceu num momento em que os ataques contra terreiros de Umbanda e Candomblé na Baixada Fluminense se intensificaram.

Dados divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos do Rio de Janeiro (SEDHMI) apontam que em apenas um mês, já foram mais de 32 denúncias de intolerância e invasões a terreiros de Umbanda nas comunidades carioca. 

Durante a caminhada ao toque de atabaques, os candomblecistas e umbandistas seguiram louvando os Orixás com música afro e reverenciando suas ancestralidades em defesa da cidadania e responsabilizaram as autoridades pelo crescimento do ódio religioso.

“As investigações têm que ir na fonte e o Estado tem como chegar (nos responsáveis). O Estado tem essa responsabilidade, e isso cresceu porque até agora ele foi omisso. Quando falamos Estado, estamos falando do Executivo, Legislativo e Judiciário, não apenas do governador”, denunciou durante a marcha o babalawo Ivanir dos Santos, que faz parte da Comissão de Combate à intolerância Religiosa.

Para Ivanir, a falta de ajuda do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, bispo da igreja Universal do Reino de Deus, piora o cenário. “Ele (Crivella) usou da carta compromisso que assinou para ganhar a eleição e até hoje seus atos são discriminatórios e racistas perante a cultura afro-brasileira”. 

Para o secretário estadual de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, esses casos têm influência de pastores evangélicos que exercem poder no tráfico de drogas. “Fazem isso apenas para impedir outra prática religiosa na região”, disse. 

Líderes de outras religiões também cobram das autoridades para que os criminosos sejam punidos. Em um vídeo divulgado na rede social, o cardeal da arquidiocese do Rio de Janeiro, Orani Tempesta, pediu respeito e condenou as ameaças que as religiões de matriz afro-brasileira enfrentam. 

“Poder se manifestar, não importa qual o culto religioso que professa ou mesmo quem não professa nenhuma religião, é direito do cidadão. As práticas religiosas devem ter respeito e valorização daqueles que procuram servir a nação com consciência, fé e sua cidadania”.

Ivanir lembrou ainda que esses episódios já foram denunciados nas outras marchas, entretanto nada foi feito. “Não houve nenhuma investigação para prender os responsáveis. Mas o importante é que a manifestação traz muita indignação, mas estamos pedindo paz. Somos um povo de paz, apesar de sermos agredidos nas ruas, nossas casas serem queimadas, nosso sagrado ser destruído, tudo o que pedimos é paz”, finaliza o religioso.

Os ataques e invasões a terreiros

O ápice desses ataques foram dois vídeos divulgados na rede social nesta semana que mostram homens armados invadindo terreiros. Num vídeo, um suposto traficante exibe um taco de beisebol e obriga o candomblecista a vestir uma camisa com imagem de Jesus Cristo e arrebentar todas as suas guias (colares dedicados às entidades e Orixás). 

Já no segundo vídeo, um dos autores que promoveram o ato exigiu que uma líder religiosa quebrasse o seu templo e destruísse seus objetos religiosos. Os dois sacerdotes prestaram depoimento à polícia na última quinta-feira (14).

O caso está sendo investigado sob sigilo pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Na semana passada, cinco pessoas suspeitas de depredar terreiros foram ouvidas, mas negaram as acusações. A polícia ainda investiga se essas perseguições a templos têm influência de facções criminosas e pastores evangélicos envolvidos com o tráfico nas regiões.

"Precisamos nos mobilizar para assegurar que todas as religiões sejam respeitadas. O Estado Brasileiro é laico, não se aceita que nenhuma religião seja discriminada", afirma Julia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT.
 

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