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Feijão ou Fuzil: Onde se encontra e esperança do Brasil?

Escrito po: Marcio Kieller

30/09/2021

O mês de setembro de 2021 entra para a história política do Brasil. O país foi colocado numa encruzilhada: optar por fuzil ou por feijão. Contexto criado pela radicalização política de uma pequena extrema direita raivosa alimentada do desgoverno Bolsonaro que cria essa falsa polêmica entre Fuzil ou Feijão.
 
Não há essa controvérsia para a grande do povo brasileiro, os mais de 210 milhões de habitantes, principalmente os mais desvalidos que são mais de 80% da população brasileira, pois para eles a palavra imperativa no momento é feijão e arroz na mesa (é sempre bom lembrar que há alguns anos a palavra fome que estava varrida do dicionário das mulheres e homens do povo). Essa prioridade do feijão ao fuzil foi o que demonstraram os atos do dia 7 de setembro com do 27º Grito Nacional dos Excluídos, atividade que tem sustentação com a base da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e dos movimentos sociais.
 
Este ano o Grito dos Excluídos, depois de quase vinte anos, volta a falar da carestia e da fome do povo brasileiro: o golpe de 2016 demonstra suas consequências na vida de todas e todos até os dias de hoje. Pois tirou, com um golpe parlamentar e institucional, com apoio de importantes setores do judiciário, a possibilidade de milhares de brasileiras e brasileiros de ter, pelo menos, o alimento na mesa. Os meandros que levaram ao golpe foram posteriormente elucidados, haja vista a Operação Lava Jato, que foi depois de anos totalmente desmoralizada pelo Intercept Brasil, levando ao total descrédito do grupo de trabalho do Ministério Público que irmanada com o juiz parcial que depois virou ministro do desgoverno que ajudou a eleger. Posteriormente viu que que não era o que tinham lhe prometido e saiu do desgoverno, ficando com “uma mão na frente e outra atrás”, como diz o ditado popular, sendo obrigado inclusive a aceitar uma proposta de sociedade em uma empresa de consultoria jurídica de recuperação da Odebrecht. Sociedade que em pouco tempo foi rebaixada para contrato de trabalho como consultor, ou seja, trabalhou e produziu recebe, não trabalhou não produziu não recebe.
 
Mas voltando ao assunto, o grande fato é que que temos esses temas novamente no vocabulário do povo: a volta da fome e da carestia (encarecimento do custo de vida das pessoas) que já vinha sendo massacrado do ponto de vista da retirada de direitos em consequência das reformas trabalhista e da previdência feitas após o golpe na presidenta Dilma. Essas reformas vinham como demonstração política de pagamento de apoio ao golpe, ou seja, o pagamento veio com o que os patrocinadores do golpe queriam: menos estado, privatizações, sucateamento dos serviços públicos, desmonte da educação, da ciência e dos serviços públicos como um todo.
 
No entanto, no meio da implementação da lógica do estado mínimo, surge uma pandemia provocada por um vírus que coloca o mundo em uma quarentena que durou vários meses, até o surgimento de uma vacina que pudesse trazer a normalidade de volta ao mundo e ao Brasil. Mas a ganância e avareza do capital não se preocupa com a vida das pessoas, com sua sobrevivência; preocupa-se somente com a exploração, que mulheres e homens estejam à sua disposição, mesmo que suas vidas estejam em risco. No Brasil não é diferente: o grande empresariado queria porque queria que tudo voltasse a funcionar como se não houvesse uma pandemia mundial. O povo sofre as consequências do descaso, do descompromisso e da lógica de quem chegou ao governo para operá-lo pela velha lógica da locupletação favorecendo de sobremaneira somente aqueles que o cercam. E sempre com os hábitos da velha política de aproximar aqueles que querem sugar os recursos do estado, que deviam ter direcionamento para ampliação das políticas e dos serviços públicos. Mas acontece justamente ao contrário, descaso, desmonte e corrupção.
 
Por isso não podemos nos dobrar a essa lógica nefasta de estado mínimo e principalmente a essa pauta de costumes que flerta dia e noite com o fascismo, de um déspota extremamente pouco esclarecido. O que vemos é que o povo começa a acordar e somente uma pequena claque sobre duas rodas continua dando vazão e propagação aos discursos de ódio de classe e tons armamentistas. Essa posição não reflete o que espera grande parcela do povo brasileiro, pois mais de 15 milhões de desempregados e deste universo aproximadamente 6 milhões estão desalentados, ou seja, desistiram de procurar empregos fixos, isso sem contar aqueles que vivem de trabalhos precários e têm que se virar em dois ou três empregos, como é comum se observar na categoria dos professores, enfermeiros, médicos, trabalhadores de aplicativos, enfim, daqueles que precisam muitas vezes se submeter a jornadas extensivas para poder manter, não vamos dizer nem a qualidade de vida, mas manter a dignidade, pois a lógica do capital já fez centenas de milhares, inclusive, abrir mão da dignidade e da procura de trabalho decente neste cenário de fome e carestia em que o dinheiro dos especuladores rende muito mais que o dinheiro dos que tentam investir na produção.
 
A lógica da operacionalidade de um estado mínimo que prevalece desde 2016 esvaziou se em alguns aspectos, como no exemplo do descaso e do desmonte que estava sendo implementado do Sistema Único de Saúde – SUS, pois, mesmo sendo vítima de um sucateamento atroz nos últimos anos para tentar privatizá-lo, colocando-o nas mãos dos grandes planos de saúde nacionais e internacionais, mesmo assim o SUS demonstrou ter capilaridade para atender as milhões de vítimas que foram acometidas pela pandemia de Covid-19, salvando milhões de vidas. E foi também fundamental quando sua capilaridade sua utilização para a aplicação das vacinas assim que essas começaram a chegar. Ou seja: tendo vacinas o SUS consegue dar vazão para que milhões de brasileiras e brasileiros possam ser vacinados em um dia. Não fosse o descaso e a tentativa de membro do desgoverno Bolsonaro em tentar lucrar com a vacinas, poderíamos estar em um momento muito mais tranquilos no Brasil, no que tange a vacinação. No entanto, ainda não vacinamos nem 80% dos Brasileiros com a primeira dose, e nem 40% com a segunda dose por falta de vacinas suficientes. Isso sem falar que agora em função de variante poderosa chamada de variante Delta está se iniciando a vacinação de uma terceira dose.
 
Dentre tantos problemas que enfrenta o povo brasileiro, a esperança de mudança significativa para a população é a possibilidade da volta do presidente Lula para governar o país, líder absoluto nas pesquisas de opinião aplicadas por todos os institutos de pesquisas. Essa confiança decorre pela postura altruísta do presidente Lula de colocar a resolução dos problemas do povo em primeiro lugar, pois Lula tem a seu favor ter governado o Brasil durante oito anos e nesse período ter erradicado a fome da população, construído política inclusiva e ter aberto diálogos nacionais que permitiram à população poder opinar na construção das políticas públicas através das centenas de conferências nacionais tripartites que possibilitaram construir e avançar em muitas setores da sociedade. Durante os governos populares de Lula e Dilma foram realizadas Conferências Nacionais da Educação, das Mulheres, da Juventude, da Saúde, dos Direitos humanos, de Seguridade Social, de Esportes, da Assistência Social, enfim, como dissemos, centenas. Conferências que possibilitaram a participação popular e o debate social. Também tem os governos democráticos e populares a seu favor, além de a política de geração de emprego e renda, que possibilitou ao Brasil chegar no primeiro governo de Dilma Rousseff ao quase pleno emprego.
 
Somente depois da ofensiva do capital vadio, com sempre fala o ex-governador Requião ao se referir ao capital especulativo, que nada produz e somente explora as relações de classe no Brasil, o grande empresariado nacional, que não suportava mais dividir os aeroportos com as classes em ascensão, se iniciou o retrocesso, atendendo a essa ofensiva e orquestrando uma política de desaceleração econômica com vistas a uma recessão técnica anunciada. Ou seja: através da economia essas elites empresariais deram uma resposta econômica de abandonar o governo Dilma, isso aliado ao esvaziamento político do Governo Dilma, por parte parasitária gleba de políticos do Centrão, se arquitetou o golpe de 2016, com o impeachment da presidenta Dilma, como sempre afirmamos, sem crime e, inclusive, sem pena, para a presidenta: ela não teve seus direitos políticos cassados pelos supostos “crimes de responsabilidade”, o que corrobora com a tese de um golpe parlamentar e institucional apoiado por setores do judiciário. Golpe deferido em agosto de 2016 que trouxe consequências sociais e econômicas para o povo extremamente graves, passando pela farsa montada pela Operação Lava Jato que tiraram o ex-presidente Lula de uma eleição praticamente ganha 2018, e alçaram o perigoso voo de uma extrema direita conservadora, racista, xenófoba, machista, misógina, homofóbica e negacionista que fora potencializada na ânsia que a direita tinha de vencer a esquerda. Potencialização essa que fez com que a direita não perdesse as eleições para a esquerda, que saiu ainda fortalecida e com a maior bancada individual do congresso, mas sim para essa extrema direita descrita linhas acima, trazendo o caos político e econômico que somente beneficia o grande empresariado com suas ações político-econômicas desenvolvidas através das reformas e da imposição da lógica do estado mínimo.
 
O Brasil polarizado começa a se preparar para o embate do ano que vem, e a esperança da grande maioria do povo é que as eleições ocorram sem as ameaças e bravatas que o desgoverno Bolsonaro faz cotidianamente para alimentar o ódio da pequena verve que o cerca. Afinal, se as eleições ocorrem de forma limpa e democrática, a classe trabalhadora, que mais tem sofrido com os descaminhos do desgoverno Bolsonaro, fará com que se acabe esse suposto dilema: Fuzil ou Feijão, que uma minúscula parcela da população tem reproduzido, assim como reproduz as asneiras e críticas infundadas ao sistema eleitoral feitas pela família Bolsonaro, tão infundadas que a própria família Bolsonaro, vem sendo eleita pelas urnas eletrônicas há décadas. Se não formos surpreendidos por surpresas antidemocráticas veremos novamente, através da volta do presidente Lula, a esperança dar lugar às incertezas.
 
Se bravata e ameaças à ordem democrática cessarem, começarmos a fazer a discussão política séria calcada nos reais problemas do povo e um consistente de projeto de desenvolvimento estratégico e popular para a sociedade, veremos que a afirmação social de milhões de pessoas dissolverá a falsa e inexistente dicotomia entre fuzil ou feijão. Deixando claro a vontade da imensa e esmagadora maioria do povo brasileiro que quer não fuzis, mas quer sim, saúde, emprego, dignidade, educação, vacina no braço e principalmente arroz e feijão no prato. E isso só é possível se houver um estado forte e presente na vida de toda a população.
 
Marcio Kieller é Presidente da CUT Paraná e mestre em Sociologia Política pela UFPR. 
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