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Esperançar com Paulo Freire: a CUT na construção de novos dias para a classe trabalhadora

Escrito po: Rosane Bertotti

28/09/2021

Origens
 
O mês de setembro, para nós, brasileiros e brasileiras, marca o início da primavera. Tempo de desabrochar, de reiniciar, de colorir, um tempo de esperançar! E o Brasil com sua imensa extensão geográfica e grande diversidade de sua biosfera, nos dá o privilégio de ver e sentir os aromas das chuvas, das frutas, das cores das diversas flores que tingem a nossa paisagem, anunciando a chegada da nova estação.
 
Também em setembro, nascia em Recife, em 1921, Paulo Freire. Ele que desde sua infância fez no quintal de sua casa com as mangueiras e os cajueiros, sua primeira leitura do mundo, antes mesmo de conhecer as palavras. E foi lá que germinou o “andarilho da utopia”.
 
Paulo Freire, a CUT e a defesa de seu legado
 
Para comemorar o centenário de seu nascimento, em 2020, iniciamos um grande movimento de defesa de seu legado e de sua obra, composto por campanhas, jornadas, aulas públicas, homenagens, ciclo de debates e estudos.
 
Paulo Freire é o educador da classe trabalhadora. Para a Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, a opção pela sua concepção como orientadora da nossa política de formação, está relacionada a uma escolha de vivenciarmos práticas políticas e pedagógicas que nos permitam estar perto e junto, com aquelas e aqueles em favor e com quem lutamos, construindo o mundo livre, justo e amoroso com o qual esperançamos.
 
Para celebramos o seu centenário, a CUT, através da SNF,  desafiou-se a dialogar com ele relendo e revisitando suas obras, e identificar as suas contribuições para os tempos atuais, através da realização do “Ciclo de Debates Quartas-Freireanas – Esperançar, organizar e construir um mundo novo para trabalhadoras e trabalhadores”, organizada pela Rede Nacional de Formadores e Formadoras e coordenado pelas Escolas Sindicais, por todo país.
 
Além disso, participou da Campanha Latino-Americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire organizada pelo Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL), com o objetivo de se contrapor à ofensiva ideológica contra o pensamento crítico de Paulo Freire e defender seu legado diante do atual contexto de aprofundamento das desigualdades sociais e dos processos históricos de opressão.
 
Uma das formas de defender seu legado, além de refletir e dialogar, é praticar o que ele elaborou, sistematizou a partir de sua relação com o mundo. Entre tantos ensinamentos está o trabalho de base, amplamente falado e, por vezes, tão pouco praticado. Esse é um trabalho que é estratégico em nosso projeto organizativo para restabelecer a confiança das massas, ampliar o vínculo com os trabalhadores (as) de uma forma que seja capaz de mudar a correlação de forças na sociedade.
 
A formação necessariamente precisa estar relacionada à nossa ação e à estratégia de organização.  Para isso Paulo Freire coloca a importância de escutar o outro com amorosidade e isso inclui aquelas pessoas que pensam diferente de nós.
 
Desafiar o atual contexto
 
As celebrações do centenário desse grande educador são marcadas pela maior crise sanitária dos últimos cem anos, gerada por uma pandemia. No início, o medo do desconhecido tomou conta de nossas mentes e corpos, e nos isolamos, porém à medida que entramos em contato essa realidade dura, constatamos que essa crise não foi causada somente pelo coronavírus, mas são consequências de uma ordem econômica estabelecida pelo capital financeiro que há muito nos oprime e nos impõem regras, gerando graves problemas de ordem social.
 
Paulo Freire é muito importante para nós e isso explica por que querem apagar seu legado e sua memória. O que os fascistas desejam é manter a cultura do silêncio e impedir a consciência política do povo, para agir, para pensar e transformar o mundo em que vivemos.
 
Nesses tempos de tanta desesperança e desumanização o que será que Paulo Freire poderia dialogar conosco, se estivesse presencialmente entre nós? O que diria sobre o papel dos sindicatos e do movimento sindical, como importantes instrumentos de organização da classe trabalhadora, de resistência e proteção de direitos? O que fazer? De que forma atuar? 
 
O atual cenário global nos causa diversos sentimentos: indignação, tristeza, apatia, impotência e raiva. Para olhar e compreender essa realidade tão complexa, partimos de um dos princípios freireanos, que o ser humano é inacabado, inconcluso e incompleto, que somos seres por se fazer, que nos movemos pela curiosidade e inquietudes.
 
Temos a capacidade de nos libertar daquilo que nos oprime, porém, ter essa consciência só fará sentido se juntarmos essa compreensão com a luta política pela transformação da realidade, para não cairmos no fatalismo que tudo já está dado, pois o mundo não é, está sendo!
 
A Esperança
 
Freire se denominava um esperançoso, pois a esperança é inerente ao ser humano, se nos sentimos mal com as injustiças, com as discriminações, não há como não nos movermos em favor dos oprimidos e das oprimidas contra aqueles que nos oprimem?
 
Freire dizia que é preciso ter esperança do verbo esperançar. Esperança do verbo esperar é espera. Já esperançar é ir atrás, construir, levantar, ir adiante. Para ele esperançar é estar junto com os outros, tem uma dimensão coletiva, onde sujeitos históricos fazem diferente do que está sendo feito e constroem o amanhã.
 
A esperança é um tempero fundamental à experiência histórica, sem ela só haveria o puro determinismo, sem a possibilidade de transformação. A história não está dada, o nosso horizonte e nosso amanhã dependem de nossa luta e nossa organização de classe.
 
Vivemos tempos de novos desafios sobre velhos temas, são desafios de uma disputa ética, por solidariedade pelo cuidado da vida. Em situações limites como o que estamos vivendo, é preciso problematizar a realidade, escutar o outro com amorosidade, para fazer mudanças inéditas pois temos a capacidade de criar o inédito viável.
 
O alimento da esperança é a luta, ousemos sonhar e esperançar!
 
Rosane Bertotti é agricultora familiar, formada em Ciência Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina e secretária nacional de Formação da CUT.
 
Fonte: CUT Brasil
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