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28/05/2013
Vera F. Gasparetto[1]
“Sempre faço o que não consigo
fazer para aprender o que não sei.”
(Pablo Picasso)
Entre os desafios da CUT no debate sobre um projeto de desenvolvimento para o Brasil está a democratização da comunicação como um ponto onde a sociedade civil organizada necessita avançar. O cenário é de imensas contradições. Muitos têm acesso às ferramentas tecnológicas para a comunicação, mas muitos também não têm acesso a nada. No mundo cinco agências internacionais filtram e distribuem as notícias. Os grandes conglomerados de mídia se fundem e acentuam os monopólios, sem nenhuma legislação para perturbar seus planos.
Poucos são donos dos meios e manipulam as mensagens, que no Brasil são desreguladas e desregulamentadas, expressando o ‘desinteresse’ público sobre a questão. Esse aparente ‘desinteresse’ oculta uma estreita relação entre o Estado e os monopólios: ministros das comunicações ligados ao grande capital da mídia e do entretenimento, uma parcela expressiva do Congresso Nacional representa e defende o setor (grande parte dos parlamentares inclusive são proprietários).
A implantação da TV digital é mais do que um upgrade tecnológico: é um novo paradigma de comunicação que levará as relações sociais a outras dimensões, mas pouco tem sido estudado os prováveis efeitos dessa mudança para o avanço da luta pelos direitos no Brasil. O padrão Japonês adotado demonstra que o Brasil perdeu a chance de reorganizar e democratizar o sistema de TV no Brasil (FNDC:2006). Não utiliza o padrão brasileiro e desvaloriza a tecnologia e a indústria nacional.
Além da parte técnica o mais grave é a questão dos conteúdos: quem irá regular os conteúdos que esses grupos irão oferecer? Qual percentual desses conteúdos estará de fato na mão de brasileiros? O desafio do movimento social é compreender, apropriar-se e incidir sobre esse debate, refletindo o que a sociedade necessita e o que quer com a TV digital.
Para o Brasil o plano dos conglomerados de mídia é a convergência tecnológica, que integra voz, áudio e imagem numaúnica infra-estrutura para prover serviços que requeriam equipamentos, canais de comunicação, protocolos e padrões independentes. No futuro muito próximo o usuário acessará as informações de qualquer lugar e através de qualquer meio de comunicação por uma interface única. Envolve tecnologias modernas de telecomunicações tais como rádio, televisão, redes de computadores e de telefonia. Ou seja, a tecnologia como uma extensão do próprio corpo, permitindo o acesso a um infinito de possibilidades. E o movimento social e sindical, como pretende utilizar essa tecnologia? Como transformá-la num instrumento que beneficie a sociedade?
O mercado da publicidade no Brasil corre solto, sem regras sobre os conteúdos das propagandas e sem critérios para a área de cobertura. Algumas iniciativas pontuais de parte da Câmara dos Deputados, do ministério público e de movimentos como a Articulação Mulher e Mídia tem tido êxito na regulação dos conteúdos, especialmente os marcados pela baixaria, racismo, machismo, sexismo e homofobia. A “Campanha contra a Baixaria” têm crescido e conquistado vitória que provocam efeitos na sociedade, mas o mundo da publicidade e seus efeitos no imaginário ainda é perverso, especialmente com as crianças e jovens.
“As massas consumidoras recebem ordens em um idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite. No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório.” [2]
A democratização da cultura e da inteligência do país e o fortalecimento do poder local são fundamentais e a CUT tem um alcance e a capacidade inigualáveis de articular localmente essas iniciativas no país. Os sindicatos podem contribuir na criação/rearticulação de comitês pela democratização da comunicação e disputar políticas públicas de educação para inserir nos currículos a educação crítica para as mídias, além de debater com a sociedade alternativas para o controle social. Afinal, qual dirigente sindical ou entidade que não disputa versão com a mídia nas suas localidades?
Caminho de transformações
O mundo vive uma crise civilizatória, onde @s trabalhador@s estão submetidos cada vez mais à exploração, a acumulação do capital, ao trabalho escravo, às migrações, às guerras, ao tráfico de pessoas, ao abandono da infância e dos jovens, a feminização da pobreza. Essa situação alimenta o círculo vicioso do medo, que coloca os cidadãos como reféns do Estado e do mercado (BAUMAN: 2007).
Os significados da crise dependem do ponto de vista de quem lê. Para efeitos desse artigo, pinçamos as significações positivas para a palavra, acreditando que vivemos um momento ímpar na história da humanidade, onde a crise poderá levar às profundas mudanças de compreensão e atitude. Crise no idioma mandarim é a junção dos ideogramas ameaça + oportunidade. A oportunidade está colocada, mas também dependerá de quem tiver a coragem de enfrentar a realidade, encarar suas forças e fraquezas e transformar vontade em ação.
“Crise é um estado de dúvidas e incertezas, uma fase difícil e grave na evolução das coisas. Pode ser também um momento perigoso ou decisivo na história. Ponto de transição entre um período de prosperidade e outro de depressão. Crise social é uma situação grave em que acontecimentos da vida social, rompendo padrões tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos integrados na sociedade.”[3]
As grandes transformações na história foram resultaram de crises, que questionaram as velhas formas e proporcionaram o surgimento de novos paradigmas. Certo distanciamento ajuda a olhar sob um ponto de vista diferente para a realidade da formação sindical e os desafios colocados. Talvez estranhar as formas familiares de tratar antigas questões e trazer o estranho como uma nova forma de encarar a realidade e construir caminhos que superem a fragmentação e a disciplinaridade, em busca de novas e mais variadas interfaces (SANTOS, 2008) entre os temas da agenda político-organizativa da CUT, que pautem a formação – nesse caso para a comunicação.
O campo da educação para a comunicação parece ser um estranho no ninho, mas será mesmo tão estranho assim? Quem não conhece ou vivencia no dia-a-dia das suas práticas sindicais experiências concretas de comunicação, seja ela falada, escrita, auditiva, visual ou midiática? Com certeza a vivência comunicacional é a mais familiar e intensa do ser humano, e talvez por isso menos sobre a qual menos se detém a refletir e aprofundar.
Comunicarvem do latim communicare. Significa fazer saber; tornar comum; participar. Comunicar idéias, pensamentos e propósitos, estabelecer relação, ligar, unir; pôr-se em contato, entender-se, transmitir, propagar. Informação é do latim informatione: ato ou efeito de informar. Instrução, direção; medida da redução da incerteza sobre um determinado estado de coisas por intermédio de uma mensagem.
As formas de atentar contra o direito à informação são caracterizadas por apresentação parcial de uma verdade, pelo sensacionalismo, pelo silêncio, pela mistura de fatos com juízos de valor, pelos vazios sugestivos ou rumores sem base, manipulação do passado, engano, amostragens insuficientes, criminalizaçãoe generalização de fatos parciais. Para Barbero:
“Comunicar foi e continuará sendo algo mais difícil e amplo que informar, pois comunicar é tornar possível que homens (e mulheres) reconheçam outros homens (e mulheres) em um duplo sentido: reconheçam seu direito a viver e a pensar diferente, e reconheçam a si mesmos nessa diferença, ou seja, que estejam dispostos a lutar a todo o momento pela defesa dos direitos dos outros, já que nesses mesmos direitos estão contidos os próprios.”[4]
Fato é que o século XXI acentua a era da comunicação e da informação, traçada como um caminho sem volta, que desafia a entender as suas conformações, a estrutura social, política, econômica do porvir, e acima de tudo, os impactos na cultura e na ideologia, os reflexos no imaginário e na subjetividade dos homens e das mulheres, nos indivíduos e nas coletividades. O homem/mulher contemporâne@ não quer ser massa, mas sujeito, suas carências afetam a auto-estima e trazem a demanda por espaços de pertencimento[5], pois fisicamente está desenraizado da comunidade, de um grupo social. Os meios de comunicação modificam a mente e contribuem para o nascimento de uma nova linguagem, capaz de tornar mais imediata a comunicação:
“Uma linguagem semelhante ao pensamento, que não se move seguindo esquemas rigidamente seqüenciais como o alfabeto, mas salta daqui para lá, de conceito em conceito, exatamente como o hipertexto[6].”[7]
A repercussão dos alcances das novas tecnologias da comunicação e informação no mundo atual é tamanha, chegando ao ponto de muitas identidades serem constituídas no campo da virtualidade, particularmente através da internet. Existe a pessoa afeita ao ‘novo’, às novas tecnologias, é chamado de ‘antenad@’, especialmente @s jovens. Caracteriza-se pela aversão à obrigação, mas pode ser mobilizado pela paixão.
Dessa forma, é preciso compreender e incorporar a emoção, do prazer, do desejo ao fazer comunicação pressupõe uma compreensão de se superando o exclusivo campo da racionalidade. A ampliação da visão política sobre a comunicação pressupõe uma compreensão de que se trata de um processo de diálogo e interações, superando a visão instrumental de tratá-la como simplesmente um meio. Mais do que um fenômeno próprio, a comunicação perpassa todos os demais fenômenos humanos e sociais, para a libertação e a transformação dos sujeitos e das sociedades (BAUMAN:2007). Ou a permanência de tudo como está:
“As mensagens dirigidas dos centros do poder político tanto para os ricos como para os infelizes apresentam “mais flexibilidade” como a única cura para uma insegurança já insuperável – e assim retratam a perspectiva de mais incerteza, mais privatização dos problemas, mais solidão e impotência e, na verdade, mais incerteza ainda. Elas excluem a possibilidade de uma segurança existencial que se baseie em alicerces coletivos e assim não oferecem incentivos a ações solidárias; em lugar disso encoraja m seus ouvintes a se concentrarem na sua sobrevivência individual ao estilo ‘cada um por si e Deus por todos’ – num mundo incuravelmente fragmentado e atomizado e, portanto cada vez mais incerto e imprevisível.”[8]
O movimento da globalização e a disseminação de novas tecnologias é um paradoxo que desafia especialmente o campo da cultura e da educação, pois uma escola capaz de promover o uso crítico e criativo dos meios audiovisuais e das tecnologias informáticas assume importância estratégica (BARBERO: 2003).
“Tudo isso nos conduz aos desafios enfrentados, na gestação de uma cultura mundializada, pelas aprendizagens à convivência com os novos campos de experiência desenvolvidos pelas tecnologias da globalização ou, ao contrário, com o aprofundamento da divisão e a exclusão social que estas tecnologias já estão produzindo. O mais grave dos desafios que a comunicação propõe hoje à educação é que, enquanto os filhos das classes mais altas conseguem interagir com o novo ecossistema informacional e comunicativo a partir da própria casa, os filhos das classes populares (...) acabam excluídos do novo espaço laboral e profissional que a cultura tecnológica configura”[9].
Essa nova estrutura está baseada na velocidade, na interconectividade e no tempo real, configurando uma globalização inimaginável, nos oferece instrumentos e elementos que podem ser estratégicos na construção de novas formas de resistências. Não há como deter as mudanças dos átomos para os bits, e as conseqüências obscuras da tecnologia, como a transformação radical da natureza dos mercados de trabalho, o desaparecimento do emprego vitalício numa única empresa, numa única empresa e um cenário onde os deslocamentos de setores econômicos importantes buscam mão-de-obra qualificada e/ou barata. A questão é como dar sentido e significado a este movimento de intensas transformações ainda com grandes setores da população privados do acesso à essas tecnologias, de seus direitos (NEGROPONTE:1995).
“Algumas pessoas se preocupam com a divisão social entre os ricos e pobres de informação, os abastados e os despossuídos, o Primeiro e o Terceiro Mundo. A verdadeira divisão cultural, porém, apartará gerações. (...) A informática não tem nada a ver com computadores. Tem a ver com a vida das pessoas”[10].
As transformações sociais, políticas, econômicas, culturais e ideológicas decorrentes desafiam os movimentos sociais a construírem alternativas e buscarem novos paradigmas a partir dos quais superem o fazer comunicacional e atinjam uma nova compreensão sobre a dimensão antropológica da comunicação, como algo inerente e necessário ao ser humano e fundamental para a democratização das sociedades e a libertação dos povos.
A relação do conjunto da CUT com a comunicação é marcada pelo aspecto instrumental: investimento em estrutura, veículos, profissionais e tecnologia para qualificar o processo como uma ferramenta para a ação política. O momento desafia a Central a dar um salto de qualidade, de modo a criar um sistema de Comunicação nacionalmente articulado, envolvendo as estruturas horizontal (estaduais) e vertical (ramos), levando ao conjunto da sua organização e da classe trabalhadora a luta pela democratização da comunicação no país.
A ausência de uma planificação de conceitos e diretrizes sobre a comunicação, que seja do amplo domínio do conjunto dos trabalhador@s, além da fragmentação da imagem e do discurso, a dispersão da ação política que restringe a abrangência do diálogo junto aos trabalhadores, junto à sociedade e ao Estado, perdendo-se a possibilidade de uma luta consistente no campo da contra-informação e da mídia[11].
Assim, a proposta de Formação para a Comunicação pretende oportunizar o aprofundamento sobre conceitos e diretrizes, visando contribuir na construção de identidades, a partir do reconhecimento e da valorização das diversidades dentro da Central, e na promoção de uma mudança de cultura que fortaleça a unidade de ação e de discurso e, ao mesmo tempo contribua na disputa de hegemonia da classe trabalhadora na sociedade, proporcionando a criação de novos conhecimentos, com base nos interesses de classe.
Muitas experiências desenvolvidas pelas CUTs estaduais, ramos e sindicatos no campo da comunicação, trazem um legado a Central, desafiando-a a sistematizar estas experiências positivas e a propor alternativas concretas para a democratização da comunicação, em contraposição a globalização do imaginário e do simbólico:
“A mídia desempenha função estratégica primordial enquanto máquina produtiva que legitima ideologicamente a globalização capitalista. Por deter a capacidade de interconectar o planeta em tempo real, os dispositivos de comunicação concatenam, simbolicamente, as partes das totalidades, procurando unificá-las em torno de crenças, valores, estilos de vida e padrões de consumo quase sempre alinhados com a razão competitiva dos mercados globalizados” [12]..
Os movimentos anti-globalização, a articulação dos movimentos sociais, em âmbito internacional, na América Latina e no Brasil, evidenciam a gestação de um novo mundo no cotidiano das relações interpessoais e sociais. Alternativas reais são ensaiadas e apresentadas, em especial, o tema da comunicação que surge como fundamental para a disputa de hegemonia e a construção da globalização solidária.
“Vivemos uma globalização internacional de governos corruptos e autoritários. Uma imprensa que faz de conta que é livre, tribunais que fazem de conta que administram a justiça. É uma acumulação obscena de poder. Há uma distância muito grande entre quem toma as decisões e quem tem que obedecê-las. Nossa luta é para diminuir essa distância. Cara-a-cara com o império, parece que estamos perdendo. Mas nós os desnudamos. Perderam sua máscara e estão sob céu aberto. O império norte-americano é feio demais para olhar seu próprio reflexo e arregimentar seu próprio povo.
Nosso desafio é ajudar a construir a opinião pública até um ruído ensurdecedor. Reinventar a desobediência civil e criar um milhão de formas de nos tornar um pé no saco coletivo. Vamos sitiá-los, fazê-los passar vergonha. Vamos expor nossa arte, nossa música, literatura, teimosia, alegria, brilho, implacabilidade, nossa capacidade de contar as próprias histórias”[13].
Desafios à CUT
As barreiras da geografia, da linguagem, da língua, são movidas pela tecnologia e compreender esse universo traz pistas para uma estratégia de formação para a comunicação que considere três princípios:
1) INTEGRALIDADE DA COMUNICAÇÃO
Comunicação compreendida como uma relação de poder, permeada por ideologias dos diferentes atores sociais, que são sujeitos da produção de informação e não receptores passivos. O processo comunicacional entendido como uma interação dialógica permanente entre emissor -> mensagem -> receptor -> emissor.
A postura crítica do receptor para localizar as contradições, os interesses por detrás da informação. A visão ética do emissor para a produção de uma comunicação diferenciada. Formação para a comunicação na perspectiva de educação integral e indelegável, que parte da realidade dos sujeitos, compreendendo aspectos da subjetividade.
2) EDUCOMUNICAÇÃO
Educação para a comunicação, voltada para a formação de emissores e receptores autônomos e críticos frente aos meios, capacitando para a gestão coletiva da comunicação: planejamento, execução e avaliação de planos, programas e projetos para a comunicação/cultura/educação. Compreensão sobre as novas tecnologias, a inclusão digital e o domínio da técnica como uma ferramenta para a política.
3) DIMENSÕES INTERPESSOAL E INSTITUCIONAL
3.1. Interpessoal: parte do entendimento que tod@s comunicam, são sujeitos de comunicação. A qualificação é voltada para falar em público, ouvir, interpretar fatos e situações, ler, elaborar/escrever, negociar, sentir. É voltada para o uso dos instrumentos e da tecnologia, aliada à formação de sujeitos críticos, com capacidade de compreender e formular para as diferentes culturas e realidades.
3.2. Institucional: a) A comunicação interna, que necessita de pactos entre os sujeitos, planejamento, interação entre as políticas/secretarias da entidade. b) Comunicação externa, para a qual são definidas estratégias de comunicação integrada para a formação de opinião e relacionamento com os diferentes públicos alvos (trabalhador@s/ramo, sistema CUT, sociedade, mídia, poder público, etc). Considera as expressões da vida da sua gente, a cultura, o modo de vida.
Diante desses argumentos o desafio da CUT é compreender as mudanças e construir alternativas em duas frentes: a) melhorar suas próprias ferramentas e instrumentos, promovendo uma visão mais ampla do uso desses recursos; b) formação de uma consciência mais ampla no movimento sindical cutista sobre a importância estratégica das lutas pela democratização da comunicação.
A Formação para a Comunicação é um possível caminho a seguir que contribua para esse desafio, passando pelo diálogo com o conjunto das secretarias da CUT Nacional, das CUTs Estaduais, ramos e entidades filiadas, de modo a criar um sistema articulado e transversalizar essa política, ligando-a aos eixos do planejamento da CUT Nacional, avançando-se assim, na concepção de uma gestão participativa.
Aonde chegar com a educação para a comunicação
A partir da ampliação do quadro de dirigentes, assessores e lideranças sindicais capacitados e apropriados de novos conceitos no campo da comunicação, com percepção da sua amplitude estratégica, é possível apontar alguns objetivos do trabalho da formação para a comunicação:
1) Contribuir para a articulação e implantação de um Sistema de Comunicação da CUT, fortalecendo sua estratégia político-organizativa, criando canais de comunicação interna ágeis e confiáveis, envolvendo dirigentes sindicais (liberados e nos locais de trabalho, funcionários das entidades e assessorias). Essa ação com alcance na relação com a classe trabalhadora e no fortalecimento das relações internacionais.
2) Capacitar dirigentes e assessores para o fortalecimento dos canais e o uso adequado dos instrumentos e ferramentas nos espaços de representação sindical cutista e na proposição de políticas públicas de comunicação. O uso adequado dos instrumentos de comunicação considerando o conhecimento da tecnologia, a ética na produção da informação, a pluralidade, o respeito às diferenças, considerando as questões de gênero, sexo, orientação sexual, raça/etnia, geração, meio ambiente, etc.
3) Promover estratégias de comunicação que ampliem e fortaleçam a organização sindical da CUT, através da visibilidade das iniciativas e a unidade de ação e de discurso.
4) Constituir um coletivo nacional de comunicação, com capacidade para formular políticas alternativas de comunicação com o envolvimento do conjunto dos ramos e das CUTs de todo o Brasil.
5) Desenvolver a educomunicação de forma específica e também permanente na formação de dirigentes em todos os âmbitos, nos projetos e programas desenvolvidos pela CUT, estimulando a transversalidade do tema.
Ponto de partida: as experiências
Esse diálogo parte da realidade dos militantes sindicais e das entidades, para construir uma formação valorizando os saberes, trabalhe o contraditório e resgate valores e compreensões de solidariedade e justiça.
As vivências dos grupos, articuladas a conhecimentos históricos acumulados, são transformadas em experiências que sistematizam conceitos, transformados em novas práticas que qualifiquem os trabalhadores e trabalhadoras na sua atuação sindical, profissional e para a vida. Uma metodologia que resgate aspectos da subjetividade, partindo da micropolítica do sujeito, das relações interpessoais, passando pela macropolítica, das relações coletivas, sociais e globalizadas.
“...o viver humano se dá num contínuo entrelaçamento de emoções e linguagem como um fluir de coordenações consensuais de ações e emoções. Eu chamo este entrelaçamento de emoção e linguagem de conversar. Os seres humanos vivem em diferentes redes de conversações que se entrecruzam em sua realização na nossa individualidade corporal.[14]”
A partir de conteúdos e métodos que trabalhem para além da racionalidade da ação política sindical, com a compreensão sobre o corpo, o tempo, o espaço, o desejo, as emoções, o eu, o outro, podemos trabalhar com uma dimensão de comunicação que extrapole a tarefa de informar, elevando os/as dirigentes e assessorias sindicais ao patamar de entendimento da comunicação como essencial para a transformação social. Nesse sentido é necessário trazer presente as questões de classe, gênero, orientação sexual, raça/etnia, geração, meio ambiente, compreendendo a diversidade humana e a construção na e com a diferença.
Valoriza os saberes individuais e coletivos, resgatando a auto-estima[15], além de qualificar e capacitar para o uso de instrumentos de expressão verbal, escrita e corporal, usando os recursos da tecnologia. O uso de ferramentas tecnológicas, como o computador, a internet, a câmera filmadora, o rádio, a câmera fotográfica, o microfone outras formas de invenção e expressão do cotidiano a partir do reconhecimento de suas capacidades e habilidades em expressar suas idéias e opiniões, seus valores culturais, seus pensamentos e impressões sobre o cotidiano e o mundo que o cerca, gestando a transformação da realidade.
Referências Bibliográficas:
BAPTISTA, Maria Luiza C. Comunicação trama de desejos e espelhos. Ed. da ULBRA, 1996.
BAUDRILLARD, Jean. A sombra das maiorias silenciosas. Ed. Record, 1996.
BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2007.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. Companhia das Letras, 1993.
CUT Nacional. Sistematização da 12ª Plenária Estatutária, 2008.
ESCOLA SINDICAL SUL. Programa de Formação para a Comunicação. ESS, 2003/04.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. Como enfrentar o império. Conferência, 2003.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. Mídia e Globalização. Conferência, 2003.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
GALEANO, Eduardo. O império do consumo. http://mercado-global.blogspot.com/2007/01/o-imprio-do-consumo.html . Postado em janeiro de 2008, acessado em agosto de 2008.
GASPARETTI, Marco. Computador na educação – Guia para o ensino com as novas tecnologias. São Paulo: Esfera, 2001.
MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Ed. UFMG, 2001.
MORAES (org.), Denis de. Por uma outra comunicação – Mídia, mundialização, cultura e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: companhia das Letras, 1995.
Plano Nacional de Formação. Relatório do XV ENAFOR, 2004.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 9ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
SNF. Relatório do XV Encontro Nacional de Formação. Belo Horizonte – MG, 2004.
SNF. Revista Forma & Conteúdo – Edição Especial da III Conferência da Política Nacional de Formação da CUT. N. 13 – dezembro de 2006.
Sites
ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Ana Lúcia Amaral. Publicado em 09/04/2008. Pesquisado em 04/09/2008. http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Pertencimento
SOARES, Ismar de Oliveira. Mas, afinal, o que é educomunicação?
http://www.usp.br/nce/aeducomunicacao/saibamais/textos/
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB). Departamento de Biologia Celular. http://www.ensino.net/transversalidade_print.cfm
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP). Núcleo de Comunicação e Educação. http://www.eca.usp.br/nucleos/nce.
[1]Jornalista, Mestranda em Sociologia Política pela UFSC e educadora da Escola Sindical Sul.
[2]Eduardo GALEANO, O império do consumo, p. 1.
[3]Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA. Novo Aurélio Século XXI, p. 581.
[4]Dênis de MORAES (org). Por uma outra comunicação, p. 70 e 71.
[5]Pertencimentoé a crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos, que pensam em si mesmos como membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores, medos, desejos e aspirações (AMARAL).
[6]Hipertexto é um texto não-linear caracterizado pela presença de links (nós) que ligam vários documentos. Nele se navega, passando de um nó ao outro, sem acompanhar a seqüência do texto (GASPERETTI: 2001)
[7]Marco GASPERETTI. O computador na educação, 2001.
[8]Zigmunt BAUMAN, Tempos líquidos, p.20.
[9]Dênis de MORAES (org). Por uma outra comunicação, p. 62.
[10]Nicholas NEGROPONTE, Vida digital, p. 11.
[11]Mídia compreendida como o campo que abrange os mundos da mídia, da comunicação, da cultura de massas e da publicidade.
[12]Dênis de MORAES (org.), Por uma outra globalização, p. 9.
[13]Arundathi ROY, Conferência Como enfrentar o império, apontamentos.
[14]Humberto MATURANA, Emoções e linguagem na educação e na política, p. 92
[15]Auto-estima como uma questão social, sujeitos de direitos.
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