"Se Tudo Der Errado, Viro CLT": Meme Vira Alerta para Sindicatos
O meme "Viro CLT se der tudo errado" revela que jovens rejeitam a precarização. 68% preferem autonomia, mas confiam mais nos sindicatos (49 pontos) que o total (41). É hora de unir proteção e direitos.
Publicado: 11 Dezembro, 2025 - 15h58 | Última modificação: 12 Dezembro, 2025 - 10h02
Escrito por: Escola Sul da CUT
No início de 2025, bordões como “xô, CLT” e “se der tudo errado, viro CLT” viralizaram nas redes sociais, associando o emprego formal ao sinônimo de fracasso. Essa tendência, amplamente difundida entre adolescentes e jovens, acendeu um debate crucial: por que a nova geração demonstra tamanha aversão à carteira assinada?
A chave para entender o fenômeno está em como a experiência concreta do trabalho — marcada por salário baixo, jornada pesada, transporte lotado, chefias abusivas e pouco tempo de lazer — se associou à imagem da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Nesse cenário, a promessa de "autonomia" surge como uma fuga sedutora, mesmo que venha acompanhada de insegurança e ausência de proteção social.
Em pesquisa do IBGE (junho/2025), mostrou que 59% dos brasileiros preferem trabalhar por conta própria (autônomos), enquanto 39% preferem o emprego formal. Entre os jovens, de 16 a 24 anos, a preferência pela autonomia chega a 68%. Ao mesmo tempo, o estudo revela uma ambivalência importante: 67% consideram mais importante ter carteira assinada mesmo ganhando menos, enquanto 31% aceitariam trabalhar sem registro em troca de salário maior (2% não souberam). Esses dados revelam que a autonomia atrai, mas a segurança da carteira assinada continua sendo um valor central. A informalidade, muitas vezes, é vista como uma "troca" imposta pela necessidade, e não uma escolha ideal.
Para compreender essa dinâmica, é necessário entender o papel dos sindicatos nesse cenário. Apesar do tom depreciativo observado nas redes sociais, pesquisas indicam nuances na percepção do trabalho, mostrando que a valorização dos direitos de proteção ainda é significativa. O Índice de Confiança Social (ICS 2025), da Ipsos-Ipec, mede confiança em instituições numa escala de 0 a 100 (a pesquisa atribui pesos para respostas de “muita”, “alguma”, “quase nenhuma” e “nenhuma” confiança).
Neste índice, em 2025, os sindicatos registram 41 pontos — um patamar baixo no ranking geral de instituições avaliadas. O mesmo estudo, no entanto, indica que, entre os jovens, o grau de confiança nos sindicatos supera a média geral de pontos. Sendo:
16–24 anos: 49
25–34 anos: 45
Total geral: 41
A Juventude Não Está "fechada": Os jovens confiam mais nos sindicatos do que na média geral.
Esse dado reforça que a juventude não rompeu com a ideia de representação coletiva. O resultado sugere que existe uma base real para reconstruir a relação entre juventude e sindicalismo, o desafio reside em alinhar a atuação sindical com as necessidades e a percepção dessa juventude.
Portanto, é fazer com que o sindicato seja percebido como um instrumento de proteção e autonomia, e não como o "carimbo de perrengue". Esse detalhe é decisivo: a juventude não está rejeitando o direito em si, mas a experiência concreta de trabalho mal remunerado e exaustivo que, na prática, se associou à carteira assinada. E quando esta experiência aparece associada ao cansaço, pouco retorno e pouco tempo de lazer, a promessa da autonomia vira um atalho sedutor — mesmo que, no mundo real, resulte em renda instável, zero proteção e risco aumentado. A trend funciona, portanto, como um marcador simbólico da precarização.
Contudo, a queda na confiança geral em sindicatos (de 47 em 2024 para 41 em 2025) reforça a urgência da ação, pois a confiança é essencial para a mobilização, na organização de base e na disputa de narrativas em um ambiente em que o trabalho está fragmentado (CLT, PJ, MEI, plataformas) e a ideologia do “empreendedor de si mesmo” ganha força.
A análise por grupos sociais revela dimensões importantes dessa percepção. O Índice de Confiança Social (ICS 2025) e as demais pesquisas revelam ainda que a percepção sobre os sindicatos e a proteção social não é uniforme na sociedade brasileira.
Os recortes de confiança apontam que o sindicalismo possui maior base social e legitimidade nos segmentos em que a vulnerabilidade e a exploração no trabalho são mais evidentes:
- Socioeconômicas e Regionais: maior confiança nas classes D/E e na região Nordeste, em contraste com a menor confiança nas classes A/B e na região Sudeste.
- Gênero e Escolaridade: Maior confiança entre mulheres e indivíduos com nível de escolaridade mais baixo (Ensino Fundamental).
Esses indicadores sugerem que a confiança nas entidades de representação coletiva é inversamente proporcional à condição socioeconômica e à autonomia percebida no mercado de trabalho.
Por fim, a popularização da expressão "se tudo der errado, viro CLT" deve ser interpretada como um sintoma da insatisfação com a precarização do emprego (salário, jornada, assédio) e não como uma rejeição aos direitos formais. O dado mais significativo é que, em um cenário de baixa confiança geral, a juventude (16-24 anos) aparece como um segmento com abertura à organização coletiva (49 pontos de confiança), reconhecendo implicitamente a necessidade de proteção. O desafio central é reconstruir a ponte entre direitos formais e experiências reais de trabalho, para demonstrar que direitos podem caminhar junto com liberdade e qualidade de vida. As pesquisas indicam que a defesa da autonomia e dos direitos trabalhistas deve ser articulada de forma a enfrentar a precarização real do trabalho, transformando a abertura da juventude em vínculo efetivo com a defesa da dignidade profissional.
