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Ricardo Nascimento e o império da ilegalidade

23/07/2017

“Todos os pequenos poderes se sentem autorizados a desencadear essa pulsão de morte”, afirma sociólogo em missa que homenageou o carroceiro assassinado pela PM

Escrito por: Igor Carvalho

A Catedral da Sé, uma das mais importantes e tradicionais igrejas de São Paulo, foi palco da missa em homenagem a Ricardo Nascimento, o carroceiro assassinado pela Polícia Militar de São Paulo no último dia 12 de julho.

Na plateia, carroceiros, militantes dos direitos humanos, jornalistas, artistas e moradores de Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, onde Ricardo Nascimento foi assassinado. José Iran, advogado que reside na região, estava na missa.

“Nós, moradores de Pinheiros conhecíamos o Ricardo de longa data, nunca fez mal algum. O que aconteceu foi uma execução cruel de um rapaz trabalhador. É importante estarmos aqui para mostrar que não compactuamos com esse tipo de ação do Estado”, afirmou Iran.

Para o sociólogo Laymert Garcia, professor da Unicamp, a morte de Ricardo está conectada com o golpe no Brasil. “Essa ação da PM de São Paulo está ligada ao império da ilegalidade no país. Então, todos os pequenos poderes se sentem autorizados a desencadear essa pulsão de morte que está tomando conta do Brasil. Os de baixo são os que mais irão sofrer mais e o processo se intensifica porque não há mais legalidade e não tem mais Estado de direito, então todo mundo se sente autorizado a cometer crimes”, afirmou.

O artista plástico Mundano, responsável pelo projeto  “Pimp My Carroça”, um movimento que luta para tirar os catadores de materiais recicláveis da invisibilidade, promover a sua auto estima, falou sobre a morte de seu amigo “Negão”, como era conhecido Ricardo. “Foi uma execução de mais um pobre e preto dessa cidade cometido pela Polícia Militar. Não é um caso isolado, toda noite morre preto e pobre nas periferias, há décadas é assim. Sabe o que mudou? Não foi na calada da noite na periferia, foi de dia em um bairro nobre. Estamos aqui para pedir paz, só queremos que essas pessoas possam trabalhar com dignidade.”

Mundano criticou a gestão do prefeito de São Paulo, João Dória Jr, ligando o tucano com o assassinato. “Esse prefeito veio com esse projeto ‘Cidade Linda’, para tirar o lixo das ruas, mas lixo para eles é arte e pessoas pobres. Não existe ‘Cidade Linda’ sem o trabalho dos catadores, eles reciclam o lixo da nossa cidade, 90% do lixo reciclável de São Paulo é recolhido por catadores, que não são remunerados por isso”, encerrou.

O também carroceiro Djalma dos Santos, o DJ, amigo de Ricardo, reclamou da perseguição da Prefeitura. “Nós carroceiros, principalmente quando estamos em situação de rua, como eu, sofremos riscos de vida todos os dias. Olha hoje, a gente estava dormindo e o prefeito mandou jogar água gelada na gente. A PM atira e a Prefeitura joga água gelada no inverno. Querem acabar com a gente. O que fizeram com Ricardo foi cruel demais, gente.”

Ao final da missa, que durou aproximadamente uma hora, o público foi até a escadaria da Catedral da Sé, onde o ato encerrou as homenagens ao Ricardo. Entre os oradores, estavam o jornalista Audálio Dantas e os artistas Sérgio Mamberti e Letícia Sabatella.

O jornalista Juca Kfouri pediu que a mobilização não pare. “Eu tenho pra mim que aqui possa estar nascendo um movimento mais forte de resistência. Tenho para mim que isso pode ser o começo de uma luta mais consistente contra um Estado opressor e violento, que usa a polícia para a guerra e não para proteger o cidadão. Que hoje seja o dia em que começamos a dar um basta nessa situação.”

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